Repórter: Neide Brandão
Repórter Fotográfica: Neide Brandão

O Programa AVC Dá Sinais, do Governo de Alagoas, consolidou-se em 2024 como um dos mais importantes projetos de assistência neurológica do Estado. Reconhecido internacionalmente, o programa registrou um crescimento significativo no último ano, reforçando sua importância na identificação e tratamento precoce do Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Para se ter uma ideia das dimensões do Programa, em 2024, foram atendidos 1.726 pacientes, dos quais 1.070 tiveram AVC confirmado. Desses, 121 pacientes foram submetidos à trombólise, um procedimento essencial para dissolver coágulos e restabelecer o fluxo sanguíneo no cérebro. O crescimento em relação a 2023 é evidente, naquele ano, foram 1.623 atendimentos, com 985 confirmações de AVC e 119 trombólises realizadas.
Desde sua criação, em 2021, o AVC Dá Sinais já beneficiou 3.473 alagoanos, realizando 423 trombólises e 134 trombectomias – procedimentos essenciais para minimizar sequelas. Ao todo, 5.679 pessoas com suspeita da doença foram atendidas pelo programa.
A rapidez no atendimento salva vidas
O Acidente Vascular Cerebral está entre as doenças que mais matam no Brasil, alternando com o infarto na primeira e segunda posição, dependendo da região. Em 2024, ocupou o primeiro lugar no país, com mais de 60 mil casos, segundo dados do Ministério da Saúde.
De acordo com o neurologista Matheus Pires, coordenador do Programa, o tempo é o maior fator determinante na recuperação dos pacientes. “Quando a gente pensa em AVC isquêmico, por exemplo, temos muito bem estabelecidos dois tratamentos que são totalmente dependentes do tempo: a trombólise, que é um medicamento administrado na veia em até 4h30 após o início dos sintomas, e a trombectomia, um procedimento endovascular que pode ser realizado em até 8 horas do início dos sintomas. Então, percebemos que temos uma janela muito curta para tratar o paciente. Por isso, o mais importante é deixar claro para a população os principais sinais e sintomas do AVC”, frisou.
Segundo ele, a população pode identificar os sintomas do AVC através de um método simples, baseado nas iniciais do Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência]. “Utilizamos a sigla de um parceiro essencial do projeto, que desempenha um papel fundamental no encaminhamento rápido dos casos. É uma forma simples para a população entender. São passos a observar quando se suspeita de um AVC em conhecidos. O ‘S’ – Sorrir, verificar se há assimetria na boca ao sorrir; ‘A’ – Abraçar, pedir para levantar os braços e observar se há perda de força em um deles; ‘M’ – Música: pedir para falar e/ou cantar e analisar se a fala está embolada ou alterada; Por fim o ‘U’ – Urgência: buscar atendimento imediato ao perceber qualquer um desses sinais”, explicou o especialista.

Tecnologia e reconhecimento além das fronteiras
Uma das grandes inovações do programa é o uso de um aplicativo de telemedicina, que agiliza o atendimento desde o primeiro contato com o paciente. O impacto positivo do AVC Dá Sinais foi além das fronteiras de Alagoas. Representantes de diversos estados do Brasil e até de outros países visitaram o estado para conhecer de perto o sucesso da iniciativa.
Além disso, a coordenação do AVC Dá Sinais tem levado essa experiência para eventos e congressos nacionais e internacionais, compartilhando as estratégias adotadas pelo governo alagoano. “O programa já foi destaque em eventos como o Global Stroke Alliance, em São Paulo, o Congresso Brasileiro de AVC, no Paraná, o IV Encontro Nacional de Unidades de AVC, o I Encontro da Linha de Cuidado do AVC, em Brasília, e a Jornada Alagoana de Neurologia. A participação nesses eventos reforça o reconhecimento da iniciativa como referência no tratamento do AVC, servindo de modelo para outras regiões”, ressaltou Matheus Pires.

Paciente
Claudia Virginia Moura, 54 anos, está internada no Hospital Metropolitano de Alagoas após realizar uma trombectomia. Ela sofreu um AVC isquêmico e um infarto ao mesmo tempo. “Eu me senti muito cansada, não conseguia levantar nada com os braços. Meu filho me levou para a UPA, que confirmou o infarto e AVC e me encaminharam para o Complexo de Saúde, fiz o cateterismo no Hospital do Coração e estou no tratamento de AVC no Metropolitano. Graças a Deus e ao programa, fui atendida rápido e hoje estou aqui, em tratamento.”
Outro caso de recuperação é o de Sérgio Lopes, 54 anos, que já está aguardando a alta no HMA após o acidente vascular, e, continuará seu tratamento na unidade hospitalar, que se destaca por oferecer um ambulatório especializado no acompanhamento de pacientes pós-AVC. “Eu não conseguia falar direito, acabei me engasgando com a comida, estava em um almoço com familiares e amigos que me levaram à UPA. Se não fosse esse programa, eu poderia ter ficado com sequelas graves. Hoje, com o tratamento, estou bem melhor.”
A existência do Ambulatório Pós-AVC, no Hospital Metropolitano, garante que os pacientes continuem o tratamento adequado, minimizando sequelas e melhorando a qualidade de vida. Para Filipe Fernandes, diretor do HMA, esse acompanhamento contínuo é essencial. “Não basta apenas salvar vidas no momento do AVC, é fundamental garantir que o paciente tenha suporte na reabilitação e garantimos isso, oferecendo o acompanhamento neurológico. Isso aumenta significativamente as chances de recuperação e melhora a qualidade de vida dos pacientes”, frisou.

Rede de hospitais especializados
O programa conta com seis hospitais de referência para o tratamento do AVC em Alagoas, além do Metropolitano, garantindo atendimento especializado em diferentes regiões do estado. O Hospital Geral do Estado (HGE), o Hospital Regional da Mata (HRM), o Hospital do Alto Sertão (HRAS) e o Hospital de Emergência do Agreste Dr. Daniel Houly (HEA).
O AVC Dá Sinais têm mostrado que informação, rapidez e tecnologia são essenciais para salvar vidas e reduzir as sequelas da doença. Com o crescimento do programa e o envolvimento da população, Alagoas se torna referência no combate ao AVC no Brasil e no mundo.